Ela foi convocada para fazer apenas uma participação em “Salve Jorge“. Mas para Carolina Dieckmann não poderia ser melhor. Viver a Jéssica na trama de Gloria Perez tem um sabor especial para a atriz.
Primeiro, porque ela se vê dando a partida para a campanha contra o
tráfico de mulheres, que a autora abordará ao longo da história. “É uma
questão que o Brasil tem que se preocupar”, explica Carolina, que
confessa sair das cenas esgotada por causa da carga dramática da
personagem.
O outro motivo que a faz festejar a escalação é o fato de estar abrindo o caminho para a trama de Morena (
Nanda Costa).
“Fiquei feliz de o destino ter-me feito apresentar a trajetória dessa
menina tão talentosa”, diz, referindo-se a Nanda, a quem conhece desde
pequena.
Como está sendo fazer a participação em Salve Jorge?
Estou
fazendo a introdução dessa campanha (contra o tráfico de mulheres) que
considero tão importante. Todo mundo que está na novela tem o desejo de
que a campanha alerte as pessoas, para que não sejam enganadas.
Dá vontade de continuar na trama?
Na verdade, já
tinha um filme fechado, mas a personagem de que a Gloria precisava para
introduzir a coisa também não precisa ir até o final, então… A função da
Jéssica é apresentar esse universo, depois que a Morena for para lá a
história continuará por meio dela. E tem uma coisa curiosa… Conheço a
Nanda há anos… Eu a conheci em Paraty, era uma criança ainda. Nanda era
amiga da irmã do Tiago (Worcman), meu
marido. Quando me chamaram para fazer essa entrada da história dela,
fiquei feliz de o destino ter-me feito apresentar a história dessa
menina que eu acho tão talentosa, tão incrível.
A história é bem pesada, não é?
E como é um
universo muito denso, ele não entra um capítulo inteiro, entra aos
pouquinhos, porque é difícil para quem está vendo em casa, são cenas
fortes, é muito pesado… E acho que a Gloria tem total razão de estar
fazendo com tanto cuidado e de maneira tão tranquila. Para as pessoas
irem sacando e as fichas caírem…
Chegou a encontrar com meninas que foram traficadas?
Encontrei
meninas que voltaram. Conversei com famílias de pessoas que não
conseguiram retornar, que morreram tentando. A gente teve acesso nos
workshops a todos os ângulos dessa história.
E qual o impacto disso em você?
É muito duro.
Saio esgotada… Às vezes, tenho que segurar a emoção para não chorar no
meio de uma cena, realmente é muito pesado. Acho que, se eu tivesse uma
filha, estaria mais tensa ainda. Mas estou apegadíssima, e não acho que
seja uma questão que a gente se preocupe só com o filho da gente. É uma
questão que o Brasil precisa ficar atento, que as autoridades têm que se
preocupar… Muita gente com quem falo do meu papel não tem noção.
Essas famílias com quem você conversou tinham ideia do que acontecia com seus filhos?
Não
tem como saber. Elas perdem o acesso. As meninas ficam trancadas num
cativeiro e são obrigadas a ligar ao lado de um traficante, que está com
uma arma na cabeça delas, e têm de dizer que está tudo bem. Conheci a
mãe de uma menina que recebeu a notícia de que a filha tinha morrido e
não pôde nem ver o corpo dela. É muito barra-pesada.
É o seu papel mais dramático desde a Camila da novela Laços de Família (2000), de Manoel Carlos?
Não!
É bem mais dramático do que a Camila, bem mais… Camila, sem ninguém ter
culpa, passou por uma doença e sobreviveu. É uma história feliz.
Jéssica achava que ia trabalhar num balcão de pizzaria e… Chega lá e é
presa. É claro que a coisa mais importante da vida é a saúde, mas
Jéssica é privada de tudo. As meninas são obrigadas até mesmo a transar
com 20 homens por dia.
E tem gente que acha que elas entram nessa vida porque querem, não é?
A
gente tem esse preconceito, mas acho que isso vai mudar um pouquinho.
Porque há muitas meninas que vão para ser prostitutas, inclusive, mas
nenhuma delas vai para viver em cárcere privado. Decidir que quer vender
o seu corpo é totalmente diferente de alguém obrigá-la a fazer isso e a
privá-la da luz, dizer o que você vai comer, o quanto você vai ganhar… E
essas pessoas que vão, cada uma vai de um jeito. Umas sabendo um
pouquinho mais do universo da prostituição no exterior, mas nenhuma
delas viaja para ser prisioneira. É aí que a história pega.